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DESCONFINAR COM CONSCIÊNCIA

Este post destina-se a todos os que gostam de compreender o porquê das coisas que nos exigem…


Falando-se do COVID19, sabemos que há várias formas de contágio: 

  • 1. Por gotículas de saliva suspensas no ar
  • 2. Por contacto com superfícies
  • 3. Outras, menos relevantes (p. ex. animais domésticos)
1. Contaminação que nos chega pelo ar 

Pensa-se que o vírus COVID 19 se espalha, principalmente, de pessoa para pessoa, nomeadamente: 
  • Entre pessoas que estão em estreito contacto umas com as outras (a menos de metro e meio).
  • Através de gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala.
  • Essas gotículas podem pousar na boca ou no nariz de pessoas próximas e, eventualmente, ser inaladas para os pulmões.
  • O vírus é transmitido por pessoas infectadas, que podem, na maioria dos casos, não apresentar sintomas, e que, frequentemente, nem sabem que estão infectadas.
1.a. Contaminação em espaços interiores 
  • Os espaços interiores, com pouca renovação de ar, ou com ar reciclado (AC) e com muitas pessoas, são os locais onde há maior risco de transmissão.
  • Sabemos que numa sala nestas condições, por exemplo com 200 m2, se entre 60 pessoas presentes estiver um único infectado, ocorrem muitas infecções.
  • Este problema pode ocorrer em diferentes áreas interiores, como em restaurantes, call centres, gabinetes de trabalho, escritórios, salas de ensaios, atelieres, salas de espectáculos e outras. A condição é, e isto é que é importante, a inexistência de boa renovação de ar.
  • Não é suficiente ter uma porta ou uma janela aberta, porque isso apenas mitiga um pouco a situação de risco, não resolve. Mas se puderem ser abertas várias janelas e o ar, realmente, circular, a situação melhora consideravelmente.
  • Assim, resulta claro que as normas que preconizam distanciamento social não são suficientes para espaços interiores com pouca renovação de ar, onde se permanece muito tempo, pois as pessoas, em qualquer ponto da sala, acabam por ser infectadas.
  • O que aqui é relevante é a exposição ao vírus por um período de tempo prolongado (horas).
  • Num ambiente fechado e pouco arejado, mesmo a uma distância de 15 metros, mesmo existindo uma baixa dose do vírus no ar, mas por um período prolongado, pode ocorrer infecção.
  • O ar condicionado (AC) eventualmente existente apenas espalha os vírus dentro duma sala, tal como faz uma simples ventoinha. O problema reside em não haver renovação do ar (o AC não renova, normalmente) e, portanto, a circulação de ar em circuito fechado, frio ou quente, faz com que os vírus eventualmente suspensos no ar possam atingir, aleatoriamente, qualquer ponto da sala.
Para avaliar o risco de infecção (por respiração) num supermercado ou num shopping, é de considerar: 

    • o volume do espaço existente, que normalmente é muito grande,
    • o número de pessoas presentes, que normalmente é restrito,
    • e quanto tempo as pessoas permanecem na loja: os trabalhadores - várias horas; os clientes - uma hora, no máximo.
  • Para uma pessoa que está a fazer compras, considerando em conjunto a baixa densidade e o alto volume de ar da loja, juntamente com o tempo restrito que se passa na loja, verifica-se que a oportunidade de receber uma dose infecciosa é baixa. E se usar máscara, é baixíssima.
  • Mas, para os funcionários da loja, o tempo prolongado que passam na loja oferece uma oportunidade maior de receber a dose infecciosa e, portanto, o trabalho torna-se mais arriscado, exigindo o uso de protecção adequada.

1.b Contaminação em espaços exteriores

  • As regras de distanciamento social servem, realmente, para nos protegermos de exposições breves ou exposições ao ar livre.
  • Nestas situações não há tempo suficiente para se atingir a carga viral infecciosa quando se está ao pé de alguém a mais de um metro e meio, ou onde há vento ou espaço ao ar livre para diluição da carga viral.
  • Os efeitos da luz solar, calor e humidade no tempo de sobrevivência dos vírus ajudam a minimizar o risco quando se está ao ar livre.
2. Contaminação por contacto com superfícies: 

  • Muito se falou e tem falado, mas a verdade é que, com o passar do tempo, as certezas sobre este tema desvaneceram-se.
  • Num artigo (1) publicado em 22 de Maio pelo CDC (Centro de Controle de Doenças, dos EUA), são postas em causa as certezas absolutas que até aqui tínhamos sobre contágio por contacto com superfícies: “O contágio é possível, sim, mas não é, de modo nenhum, preponderante na disseminação do vírus”.
  • “É possível que uma pessoa possa adquirir o COVID-19 tocando numa superfície ou objecto com o vírus e tocando, em seguida, na sua própria boca, nariz ou possivelmente seus olhos. Não se acredita, porém, que essa seja a principal maneira de o vírus se espalhar, mas ainda estamos a aprender mais sobre como esse vírus se espalha.” Por isso, convém continuar a ter todo o cuidado.
3. Avaliação do risco

Basicamente, à medida que os locais de trabalho vão reabrindo e começamos a aventurar-nos mais, possivelmente até retomando actividades em sala ou escritório, é preciso observar cada situação e fazer um juízo específico para cada caso. Essa avaliação será necessariamente diferente se se usar ou não máscara.

Quantas pessoas estão aqui, qual o fluxo de ar existente ao meu redor e quanto tempo vou ficar neste ambiente. 
  • Se estiver numa sala ou escritório em espaço aberto (open space) de tecto baixo, realmente será necessário avaliar com muito cuidado o risco existente (volume, pessoas e fluxo de ar).
  • Se estiver num local de trabalho que exige falar cara a cara ou, pior ainda, em voz alta, é necessário avaliar criticamente o risco…
  • Se estiver sentado num espaço bem ventilado, com poucas pessoas, o risco é baixo.
  • Se, na rua passar por alguém, lembre-se que a dose recebida, no caso de o outro estar infectado, depende do tempo de exposição necessário para ser infectado. Com distanciamento social, teria de estar na direcção do fluxo de ar, directo, mais de 5 minutos para haver uma hipótese de infecção.
  • Embora as pessoas que andar a correr possam libertar mais vírus devido à respiração profunda, no caso de estarem infectados, convém lembrar que o tempo de exposição também é menor devido à sua velocidade. É sempre de manter distanciamento, mas o risco de infecção nestes casos é muito baixo.
4. Pelo conhecimento mais actual disponível, verifica-se que as principais infecções ocorrem: 
    • Em casa,
    • Nos locais de trabalho,
    • Nos transportes públicos,
    • Nas reuniões sociais
    • E nos restaurantes.
  • Estas situações representam 90% de todos os eventos de transmissão estudados.
  • Por outro lado, os surtos originados nas compras parecem ser responsáveis ​​por uma pequena percentagem das infecções rastreadas (menos de 0,3%).
5. Máscaras
  • Uma das principais coisas a considerar ao pensar no valor das máscaras é o conceito da dose viral (2).
  • Embora pareça lógico pensar que uma única partícula viral que possa atingir a boca, o nariz ou os olhos de uma pessoa, possa causar uma infecção, fortes evidências laboratoriais e empíricas dizem que não é esse o caso - é necessária uma grande dose de vírus para iniciar um caso de Covid.
  • Esse facto feliz significa que as máscaras para o uso diário não precisam de bloquear 100% dos organismos patogénicos para impedir que a doença se espalhe.
  • Mesmo as máscaras N95 de nível médico não bloqueiam todas as partículas virais, mas bloqueiam o suficiente para proteger o utilizador, até quando cuidam de pacientes com Covid-19.
  • De tudo quanto ficou dito decorre que as máscaras são úteis, e mesmo decisivas, em todas as situações.
  • Já as viseiras, apenas podem ser úteis como complemento das máscaras, em situações de grande presença dos vírus, ou então em espaços exteriores, já que, pela sua configuração, protegem do impacto directo das gotículas de saliva emitidas por alguém, mas não protegem, minimamente, de vírus que flutuam aleatoriamente em espaços interiores fechados e não arejados.
6. De acordo com Jeremy Howard (3) convém realçar:

  • Reduzir a propagação do COVID 19 requer duas coisas:
    • Primeiro, limitar contactos de indivíduos infectados através do distanciamento físico e do rastreio de contactos com quarentena apropriada;
    • Segundo, reduzir a probabilidade de transmissão por contacto usando máscaras em público, entre outras medidas.
  • As evidências indicam que o uso da máscara reduz a transmissibilidade por contacto, reduzindo a transmissão de gotículas infectadas nos contextos laboratorial e clínico.
  • O uso público de máscaras é muito eficaz para impedir a propagação do vírus.
7. Recomendações finais

  • Os indivíduos vulneráveis, enquanto não existir vacina ou medicamento eficaz, devem tomar especiais cuidados.
  • Os membros de famílias com pessoas vulneráveis ​​devem estar cientes de que, ao voltar ao trabalho ou a outros ambientes onde o distanciamento não é prático, podem levar o vírus para casa.
  • Refeições em restaurantes, só podem acontecer em duas condições:
    • Distanciamento mínimo entre pessoas de 1,5 metros, excepto no caso de coabitantes.
    • Boa renovação do ar (não serve circulação do ar), idealmente em esplanadas exteriores.
  • Reuniões, só devem ocorrer ao ar livre, com distanciamento social exigente.
  • Todas as pessoas, quando em público (por exemplo, parques, áreas de recreação ao ar livre, áreas comerciais), devem maximizar a distância física a outras pessoas. As reuniões sociais de mais de 10 pessoas, onde o distanciamento apropriado pode não ser prático, devem ser evitadas, a menos que sejam tomadas medidas de precaução, como usar máscara.
  • Deve-se evitar socializar em grupos de mais de 10 pessoas em circunstâncias que não permitam o distanciamento físico apropriado (por exemplo, recepções, feiras), ou então usar obrigatoriamente máscara.
  • O ar condicionado é de evitar, pois não resolve os problemas de renovação de ar, podendo antes potenciar o espalhamento do vírus em espaços interiores não arejados.
  • Nas piscinas ou jacuzzis não há preocupação. “O Covid-19 é muito susceptível a desinfectantes e não sobrevive nesses ambientes. Todos os desinfectantes tipo ozono, UV’s, e cloro matam e inactivam facilmente os vírus. A manutenção regular e adequada de uma piscina é suficiente. As piscinas de água salgada também são seguras.
  • Na praia, é preciso manter distanciamento social e manter as máscaras à mão, para usar nos trajectos e nos contactos fora do grupo. Apanhar Sol é favorável (4), mas é preciso não exagerar, para evitar outros problemas, bem conhecidos.
Nota final: As recomendações e informações contidas neste artigo baseiam-se nas referências abaixo indicadas. 



Referências:

1 - https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/prevent-getting-sick/how-covid-spreads.html
2 - https://www.erinbromage.com/post/the-risks-know-them-avoid-them?campaign_id=9&emc=edit_nn_20200511&instance_id=18384&nl=the-morning&regi_id=65437611&segment_id=27239&te=1&user_id=fdba48bc8b7d075098531e1831fc06d4

3 - https://www.preprints.org/manuscript/202004.0203/v2
4 - https://elemental.medium.com/how-sunlight-the-immune-system-and-covid-19-interact-cd3220e9abf5

Comentários

  1. O que é que aconteceu ao comentário que escrevi ontem arespeito deste post?.

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    Respostas
    1. Não sei mesmo, mas como o Blog é de borla, não posso refilar.
      Suspeito que já aconteceu o mesmo com outros e também têm desaparecido todas as respostas que dou. Pode ser que esta escape...

      Eliminar

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